quarta-feira, 14 de setembro de 2011

14 Set - Lei Seca reduz atendimentos nas emergências dos hospitais do Rio de Janeiro

http://oglobo.globo.com/rio/transito/mat/2011/09/13/lei-seca-reduz-atendimentos-nas-emergencias-925352888.asp

RIO - Em apenas um ano, o número de atendimentos a vítimas de acidentes de trânsito no Hospital Municipal Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca, caiu 32%, saindo de um patamar de 3.800 casos em 2009 para 2.683 em 2010. Levando em consideração que a unidade atende a uma região com uma via expressa e dezenas de quilômetros de pistas, qualquer médico de emergência tem a resposta na ponta da língua ao ser perguntado a que atribui a redução:
- À Operação Lei Seca - garante o coordenador municipal de Saúde em Grandes Eventos, José Padilha, que é cirurgião e trabalha na emergência do Hospital Souza Aguiar.
Em 2010, as quatro maiores emergências públicas da capital tiveram redução de 13% no total de acidentados atendidos, em relação ao ano anterior.
- São números muito relevantes, ainda mais considerando o fato de que estamos falando de grandes traumatismos, cujas vítimas em sua maioria são jovens, que vão ter que conviver para sempre com graves sequelas, como amputações, paralisias, problemas neurológicos. As operações (da Lei Seca) foram e são muito importantes. E a gente percebe que a maior queda está exatamente nos hospitais São Lourenço e Miguel Couto, que ficam em regiões onde mais ocorrem acidentes envolvendo jovens alcoolizados. E é nessas regiões onde também são realizadas mais blitzes de Lei Seca - afirmou Padilha.
No entanto, mesmo com operações diárias, inclusive na região na Barra, o número de acidentados atendidos nas emergências da capital voltou a subir 2,57% nos primeiros sete meses deste ano, em comparação com o mesmo período de 2010, acendendo um sinal de alerta para a segurança do trânsito carioca.
Padilha defende uma pena mais educativa para os casos de motoristas flagrados com índices superiores ao limite legal estabelecido pelo artigo 306 do Código de Trânsito Brasileiro, que criminaliza quem bebeu o equivalente a seis decigramas ou mais de álcool por litro de sangue (dois chopes, por exemplo):
- Se, no lugar de pagarem uma cesta básica, eles fossem obrigados a dar plantão nos fins de semana nas emergências, empurrando maca ou preenchendo formulários, garanto que não iam mais pensar em beber e dirigir.
Um lugar que vem se tornando estratégico para campanhas contra o álcool e a imprudência no trânsito é a Associação Brasileira Beneficente de Reabilitação (ABBR). Cada vez mais ONGs buscam o centro de estudos da entidade para montar palestras sobre o tema. Segundo a superintendente médica de reabilitação da ABBR, Leila Menezes de Castro, a unidade recebeu no ano passado 136 amputados, 54 pessoas com paraplegia ou tetraplegia por trauma raquimedular e 54 com trauma cranioencefálico, totalizando 243 pacientes chamados "grandes incapacitados".
- Quando a gente fala em reabilitação, as pessoas pensam em dez, 20 sessões. Mas, quando o paciente grande incapacitado e sua família chegam aqui, eu digo a eles que se preparem para no mínimo seis meses. É nessa primeira entrevista que eles começam a entender o que de fato aconteceu com suas vidas e o que virá pela frente.
Segundo Leila, mesmo que o tratamento seja bancado pelo SUS, a família perde renda:
- Se o paciente for profissional liberal, por exemplo, perderá seus ganhos. Alguém da família vai ter que abandonar o trabalho para passar também a viver em função do paciente. Geralmente é mãe, a esposa ou o pai. Muitas vezes, além do paciente, a família também precisa receber tratamento psicológico.
Acidentes afetam também parentes de vítimas
A primeira dificuldade, lembra a médica, é o transporte do paciente.
- Ele terá que vir aqui duas a quatro vezes por semana. Além disso, se mora num local cujo acesso é feito por escadas, terá que se mudar. São detalhes do dia a dia que podem comprometer o tratamento. E são muitas etapas, é um trabalho multiprofissional. Além da questão psicológica, o paciente vai precisar de médico, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional - diz ela. - Os motoristas que querem beber deveriam pensar que esse não será um problema só deles.
O psicólogo Messias Fernandes atende os chamados "enlutados" - pacientes que acabaram de deixar o hospital e vão começar o tratamento na ABBR - e conhece bem o problema do álcool no trânsito:
- O álcool é a pior droga. Afeta inclusive quem não tem nada com isso. Eu perdi meu irmão assim. Ele foi vítima de um motorista embriagado.

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