quarta-feira, 26 de outubro de 2011

26 Out - Avanço de sinal foi a segunda infração de trânsito mais cometida entre janeiro e julho 2011 no Rio de Janeiro

http://oglobo.globo.com/rio/transito/mat/2011/10/25/avanco-de-sinal-foi-segunda-infracao-de-transito-mais-cometida-entre-janeiro-julho-de-2011-925661605.asp


Avanço de sinal na Rua das Laranjeiras (Foto: Marcos Tristão / Agência O Globo)
RIO - "Enquanto os homens exercem seus podres poderes, motos e fuscas avançam os sinais vermelhos, e perdem os verdes". A infração, que já inspirou e indignou poetas como Caetano Veloso, na vida real não tem poesia alguma. Na avaliação de especialistas, avançar sinal é consequência da pressa e da falta de educação no trânsito. Que pressa é essa? Os estudiosos não têm uma resposta técnica, mas quem já avançou sinais culpa os congestionamentos, que retêm as pessoas nos deslocamentos mais do que elas podem suportar.
O Rio tem 108 sinais fiscalizados por radar, mas parece que os equipamentos não conseguem inibir alguns motoristas. Avanço de sinal é a segunda maior infração de trânsito cometida na cidade e representa 18,65% do total de registros da CET-Rio, entre janeiro e julho deste ano. A infração soma 236.934 multas no período e só perde para transitar em velocidade acima do permitido, que registra 594.183 multas, o que representa 46,77% do total de multas. Não parar no sinal vermelho é considerado falta gravíssima no Código de Trânsito Brasileiro e prevê perda de sete pontos na carteira de habilitação e o pagamento de multa no valor de R$ 191,54.
Um teste feito pelo O GLOBO em seis sinais da cidade, escolhidos aleatoriamente, mostra que dos 19 carros flagrados avançando sinais, dez eram táxis, cinco eram motoristas de carros de passeio, três motociclistas e um motoristas de ônibus.
- Ninguém respeita esse sinal - comentou a dona de casa Marli Santos, de 57 anos, que na quinta-feira passada tentava atravessar o sinal da Rua da Glória, próximo à Rua Benjamin Constant.
O sinal, de fato, é um dos mais desrespeitados entre os seis: em seis minutos, cinco táxis, um carro de empresa e uma moto avançaram no vermelho.
- Já fui multado por avançar esse sinal. Não vi o guarda escondido. Aqui, pouca gente atravessa e no dia estava atrasado - argumentou um motorista, que mora no bairro, e não se identificou - Depois da multa, parei de avançar - completou.
Outro que não vem merecendo respeito de motorista é o sinal no cruzamento das ruas Estrela e Barão de Petrópolis, no Rio Comprido, quase em frente ao Hospital do Amparo. Durante o teste, em oito minutos o sinal fechou e abriu quatro vezes e foi ignorado por três táxis, duas motos, um carro de passeio e um ônibus. Um dos taxistas, inclusive, avançou o sinal enquanto duas crianças aguardavam na faixa de pedestres para a travessar.
Atravessar aqui é na sorte. Tem que esperar a fileira de carros da frente parar pra não correr o risco de ser atropelado
Voltado à Zona Sul, na Rua Oliveira Rocha, esquina com Jardim Botânico, o sinal fica praticamente dois minutos fechado para os carros e apena um aberto. A demora tira a paciência de motoristas que aceleram quando o sinal está amarelo, na tentativa de aproveitar os últimos segundos, e acabam avançando no vermelho. Dois sinais na Rua Cosme Velho - na altura da Ladeira do Ascurra e da Praça São Judas Tadeu - também são ignorados. Durante o teste, o que fica próximo à ladeira foi avançado por dois motoristas em velocidade.
- Atravessar aqui é na sorte. Tem que esperar a fileira de carros da frente parar pra não correr o risco de ser atropelado - comentou o aposentado Heitor Gomes, de 72 anos, morador do bairro.
Pesquisa do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes (Cesec/Ucam) em parceria com a Secretaria municipal de Saúde, com base em números do Datasus, mostra que a primeira causa de mortes no trânsito continua sendo o atropelamento, com 376 óbitos em 2008, número que, em 2000, era de 514. Apesar de redução de 26,8%, nas estatísticas do Corpo de Bombeiros, atropelamentos são a segunda maior ocorrência no trânsito. Perde apenas para colisão de veículos.
Avanço de sinal na Rua da Glória com a Rua Benjamin Constant (Foto: Marcos Tristão / Agência O Globo)
Professora de Engenharia de Transporte da Escola Politécnica da UFRJ, Eva Vider acredita que falta atitude, cidadania, educação e fiscalização.
- Do ponto de vista de segurança no trânsito, a educação do motoristas é a base de tudo. Todas as pesquisas indicam que mais de 80% dos acidentes são causados por falha humana, que tem a ver com a pressa, com a falta de atenção.
Para ela, a pressa é consequência dos constantes congestionamentos:
- A pressa provavelmente é por causa do trânsito congestionado devido à grande quantidade de automóvel nas ruas. Quanto mais tempo parado no congestionamento, mais pressa a gente tem quando consegue andar. O motorista quer recuperar o tempo perdido. Mas nada disso é justificável.
Para Ronaldo Balassiano, professor de Engenharia de Transportes da Coppe, pior do que os taxistas são os motoristas de ônibus:
- Eles trafegam levando mais de cem pessoas e não respeitam um sinal na Avenida das Américas, por exemplo, onde moro. Quando indagado por mim, um motorista chegou a responder que avançou porque não tinha ninguém atravessando - lembra.
A professora Eva defende uma política permanente de educação no trânsito:
Quando indagado por mim, um motorista chegou a responder que avançou porque não tinha ninguém atravessando
- Se o motorista é mal educado, mal preparado, temos que partir para um programa grande de conscientização. Tem que ter punição, com pagamento de multa, mas também voltar para os bancos escolares. Educação é um processo permanente. Falta a criação de programas de treinamento permanente, principalmente para os motoristas profissionais.
Ronaldo diz que tecnicamente não é possível explicar a pressa dos motoristas.
- O cidadão se baseia na impunidade, no Brasil inteiro. Nem os motoristas das empresas de ônibus, que supostamente estão prestando serviço público e carregando cidadãos, respeitam as regras. Será que os BRTs serão operados pelos mesmos assassinos? - questiona. - As pessoas acham que no trânsito não precisam ter educação. A mesma pessoa que dá bom dia nas ruas, avança sinal e atropela - completou.
Eva acredita que o excesso de confiança explica o fato de os motoristas profissionais serem os que mais avançam sinal.
- Eles acham que conhecem melhor o trânsito e que podem avançar, até que se distraem e acontecem os acidentes. É uma armadilha. A maioria dos acidentes acontece a dois quilômetros de casa ou do local de trabalho, quando o motorista acha que está na sua área de conhecimento. Na verdade, ainda está detraído, e não se liga no trânsito.
O diretor do Centro de Educação no Trânsito da CET-Rio, Mauro Ferreira, lista os projetos promovidos pela empresa pública. O Aura (Área Urbana Reciclando Acidentes), por exemplo, implantado nos locais de maior índice de acidentes, além de verificar possíveis problemas de engenharia no local, promove campanhas educativas e ações de fiscalização.
- Também temos o Projeto A Caminho da Escola que já visitou cerca de cem unidades de ensino. Até o final do ano deve chegar a 150 escolas contempladas - afirma.


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