'Qualquer barulho de carro freando, começo a chorar', diz vítima em SP.
Casos de mortes em SP ganharam repercussão nos últimos meses.
Desde junho, a cuidadora de idosos Elizabete de Souza Cordeiro, de 38 anos, não consegue caminhar tranquila pelas ruas de São Paulo. Há dois meses, ela foi atropelada enquanto atravessava uma rua de Higienópolis, na região central, com a mulher de 91 anos que acompanhava. Elizabete se recorda, com muita tristeza, da última frase que disse à idosa, que morreu no dia seguinte ao acidente. “Ela queria atravessar fora da faixa, eu não deixei, e disse: ‘Por causa de um minuto, a gente pode perder a vida’.”
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Atropelamentos não são raros em São Paulo. Na primeira semana do mês, os bombeiros registraram 713 atropelamentos na capital paulista. Na segunda-feira (15), um bebê foi morto por um motorista. Ele engatinhava na calçada quando a mãe se distraiu e ele foi para a rua. No fim de semana, uma professora aposentada da PUC-SP também morreu após ser atingida no bairro Santa Cecília, na região central. No mês passado, em outro ponto da cidade, na Vila Madalena, um administrador de 24 anos foi morto por um jipe blindado.
A falta de respeito ao pedestre levou a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) a promover uma campanha e intensificar a fiscalização. Em uma semana, foram aplicadas mais de 2 mil multas por desrespeito aos que caminham pelas vias da cidade. Assim como Elizabete, muitos pedestres foram atropelados apesar de estarem na faixa reservada a eles. O G1 ouviu a história de três vítimas que ainda se recuperam dos problemas físicos e psicológicos que o atropelamento lhes causou.
A cuidadora de idosos conta como o atropelamento refletiu em sua vida. “Estou tão traumatizada que, quando estou atravessando a rua, qualquer barulho de carro freando eu paraliso e começo a chorar. É uma sensação horrível”, descreve. Ela levava a idosa para visitar o marido de 98 anos no hospital quando ocorreu o atropelamento. A motorista saiu do estacionamento do hospital e atingiu as duas na faixa. “Eu não cheguei a desmaiar, mas fiquei caída no chão”, lembra. “Não quebrei nada, fiquei com bastante hematoma, mas o pior mesmo é esse sentimento, o psicológico.”
O presidente da Associação Brasileira de Pedestres (Abraspe), Eduardo Daros, acredita que distração e falta de educação são fatores importantes para os atropelamentos. “Hoje nós vivemos no mundo com muitas distrações. Os atropelamentos são imperícias e imprudências de pedestres e motoristas. O pedestre, para se proteger, tem que obedecer a sinalização, mas não cegamente, não ingenuamente. Ele tem que olhar para a esquerda, para a direita e continuar com as mesmas precauções de antes de os motoristas serem multados”, diz.
A especialista em remuneração Juliana Monguilod Figueira, de 30 anos, tomou todas as precauções, olhou para os lados, mas mesmo assim foi atropelada há um ano em uma faixa de pedestres que fica no cruzamento das avenidas Dom Pedro I e Ricardo Jafet. O motorista fez a conversão sem sinalizar com a seta. A faixa de pedestres estava um pouco apagada quando o acidente aconteceu e praticamente desapareceu um ano depois. Ela fraturou a tíbia e a fíbula e chegou a ficar cinco meses sem andar.
Juliana conta que o carro estava devagar, mesmo assim ela subiu no capô, bateu no vidro e caiu no chão. “Meu acidente não foi nada e estou há um ano tratando. Se as pessoas soubessem as consequências que pode ter [um atropelamento]. É um transtorno”, diz. Ela é filha do consultor de engenharia de tráfego Horácio Figueira, que há muitos anos luta pelos direitos do pedestre. “Ela é mais uma na estatística. Eu defendo pedestre há 30 anos, é uma coisa de missão. Eu defendo pedestre desde que era moleque, perdi um irmão atropelado”, conta Figueira.
O presidente da Associação Brasileira de Pedestres (Abraspe), Eduardo Daros, acredita que distração e falta de educação são fatores importantes para os atropelamentos. “Hoje nós vivemos no mundo com muitas distrações. Os atropelamentos são imperícias e imprudências de pedestres e motoristas. O pedestre, para se proteger, tem que obedecer a sinalização, mas não cegamente, não ingenuamente. Ele tem que olhar para a esquerda, para a direita e continuar com as mesmas precauções de antes de os motoristas serem multados”, diz.
A especialista em remuneração Juliana Monguilod Figueira, de 30 anos, tomou todas as precauções, olhou para os lados, mas mesmo assim foi atropelada há um ano em uma faixa de pedestres que fica no cruzamento das avenidas Dom Pedro I e Ricardo Jafet. O motorista fez a conversão sem sinalizar com a seta. A faixa de pedestres estava um pouco apagada quando o acidente aconteceu e praticamente desapareceu um ano depois. Ela fraturou a tíbia e a fíbula e chegou a ficar cinco meses sem andar.
Juliana conta que o carro estava devagar, mesmo assim ela subiu no capô, bateu no vidro e caiu no chão. “Meu acidente não foi nada e estou há um ano tratando. Se as pessoas soubessem as consequências que pode ter [um atropelamento]. É um transtorno”, diz. Ela é filha do consultor de engenharia de tráfego Horácio Figueira, que há muitos anos luta pelos direitos do pedestre. “Ela é mais uma na estatística. Eu defendo pedestre há 30 anos, é uma coisa de missão. Eu defendo pedestre desde que era moleque, perdi um irmão atropelado”, conta Figueira.
Questionada sobre a faixa apagada, a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) diz que “realizou vistoria no cruzamento das avenidas Dom Pedro I e Ricardo Jafet, constatando que a sinalização horizontal do local encontra-se desgastada, motivo pelo qual está sendo elaborado projeto de manutenção de sinalização prevendo a repintura das faixas de pedestre". A implantação do projeto ocorrerá segundo "cronograma de serviços da empresa”.
Tratamento
A estudante Paloma Regina de Almeida Silva, de 18 anos, e a dona de casa Cristina de Almeida Silva, de 35 anos, comemoram os resultados de um tratamento que começou há quase oito anos. Em outubro de 2003, Paloma e dois primos foram atropelados em uma faixa de pedestres na Avenida Paes de Barros, na Zona Leste de São Paulo.
A motorista que atropelou, segundo a mãe, era uma jovem de 25 anos que justificou o acidente dizendo que estava atrasada para a faculdade. Os três atravessavam na faixa quando o semáforo abriu para os carros. Todos os veículos permaneceram parados, mas um automóvel cortou pelo corredor de ônibus e atingiu os primos. O menino de 11 anos teve um ferimento na barriga e a outra prima, de 32 anos, quebrou a perna.
Paloma teve traumatismo craniano, ficou 20 dias em coma, um mês na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e três meses no hospital. A jovem ficou com sequelas na fala, no equilíbrio e na coordenação motora. Ela chegou a passar quase dois anos sem falar e precisou de uma cadeira de rodas para se locomover. Desde 2004, a estudante é paciente da Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD) e, hoje, consegue se comunicar e caminhar. “Foi muito difícil para mim. Com a ajuda de uma fonoaudióloga, eu consegui voltar a falar aos poucos”, conta Paloma.
A estudante Paloma Regina de Almeida Silva, de 18 anos, e a dona de casa Cristina de Almeida Silva, de 35 anos, comemoram os resultados de um tratamento que começou há quase oito anos. Em outubro de 2003, Paloma e dois primos foram atropelados em uma faixa de pedestres na Avenida Paes de Barros, na Zona Leste de São Paulo.
A motorista que atropelou, segundo a mãe, era uma jovem de 25 anos que justificou o acidente dizendo que estava atrasada para a faculdade. Os três atravessavam na faixa quando o semáforo abriu para os carros. Todos os veículos permaneceram parados, mas um automóvel cortou pelo corredor de ônibus e atingiu os primos. O menino de 11 anos teve um ferimento na barriga e a outra prima, de 32 anos, quebrou a perna.
Paloma teve traumatismo craniano, ficou 20 dias em coma, um mês na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e três meses no hospital. A jovem ficou com sequelas na fala, no equilíbrio e na coordenação motora. Ela chegou a passar quase dois anos sem falar e precisou de uma cadeira de rodas para se locomover. Desde 2004, a estudante é paciente da Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD) e, hoje, consegue se comunicar e caminhar. “Foi muito difícil para mim. Com a ajuda de uma fonoaudióloga, eu consegui voltar a falar aos poucos”, conta Paloma.
A dona de casa chegou ao local do acidente antes do resgate e lembra que encontrou a filha desacordada e sangrando muito. “É como se o mundo parasse. Você não escuta a voz de ninguém e só quer que alguém saia e diga que está tudo bem”, lembra. Cristina conta sobre os anos de luta, mas não demonstra qualquer revolta. “Naquele momento, eu poderia não ter mais ela. Mas, como Deus nos deu uma segunda chance, vamos aproveitar”, diz a dona de casa, que se dedica integralmente aos cuidados com as duas filhas.
Relação com motorista
A cuidadora de idosos Elizabete não recebeu nenhum telefonema nem teve qualquer encontro depois do acidente com a mulher que a atropelou. “[Não me ligou] nem saber se eu preciso de alguma coisa, de algum cuidado médico, nada. Eu tinha vontade de pelo menos ouvir a voz dela, de saber o que se passa pela cabeça dela”, desabafa.
O motorista que atingiu Juliana Figueira prestou socorro, a levou ao hospital e a transportou à fisioterapia durante um mês. Por isso, ela diz não ter guardado rancor dele. Já Cristina viu a jovem que atropelou Paloma apenas em uma audiência judicial realizada dois anos após o acidente, que decidiu que a motorista deveria pagar o valor gasto com o tratamento.
O pai da motorista chegou a acompanhar os primeiros dias da estudante no hospital. “Já falei para ela por telefone que não precisava ser assim. Tenho certeza que a Paloma até a abraçaria. Ninguém está na rua para atropelar ninguém”, diz a mãe. Apesar disso, a dona de casa dá um conselho aos motoristas e pedestres. “É preciso ter mais paciência. E mais atenção.”
Relação com motorista
A cuidadora de idosos Elizabete não recebeu nenhum telefonema nem teve qualquer encontro depois do acidente com a mulher que a atropelou. “[Não me ligou] nem saber se eu preciso de alguma coisa, de algum cuidado médico, nada. Eu tinha vontade de pelo menos ouvir a voz dela, de saber o que se passa pela cabeça dela”, desabafa.
O motorista que atingiu Juliana Figueira prestou socorro, a levou ao hospital e a transportou à fisioterapia durante um mês. Por isso, ela diz não ter guardado rancor dele. Já Cristina viu a jovem que atropelou Paloma apenas em uma audiência judicial realizada dois anos após o acidente, que decidiu que a motorista deveria pagar o valor gasto com o tratamento.
O pai da motorista chegou a acompanhar os primeiros dias da estudante no hospital. “Já falei para ela por telefone que não precisava ser assim. Tenho certeza que a Paloma até a abraçaria. Ninguém está na rua para atropelar ninguém”, diz a mãe. Apesar disso, a dona de casa dá um conselho aos motoristas e pedestres. “É preciso ter mais paciência. E mais atenção.”
Parabéns pelo blog. Acredito que juntos podemos reduzir o vergonhoso número de mortos e feridos no trânsito.
ResponderExcluirAdicionei o endereço no meu blog (transesegure.blogspot.com)